G.Ferraz

Esperança milagrosa x Expectativa realista

4 de abril de 2018

 

Uma situação que interfere muito na vida das pessoas é a expectativa. Por ser um assunto que sempre despertou meu interesse, ele foi escolhido como tema da minha tese para conclusão da minha graduação em psicologia. Isso porque apesar de ser um tema amplamente discutido, geralmente focam-se apenas em aspectos comuns e que geralmente levam a um esclarecimento limitado sobre algo com muitas variações a serem exploradas.

Expectativa, do Latim Expectare, que significa “esperar, ter esperança em”, é uma palavra utilizada para definir uma esperança fundada em promessas, viabilidade ou probabilidade. Também define a condição de quem espera algo que julga possível a realização. Ou ainda, a ação ou atitude de esperar passivamente por algo ou por alguém que resultará em grandes mudanças ou diferenças.

Existem basicamente três tipos de expectativa: A expectativa como profecia auto-realizadora, a expectativa como referencia e a expectativa por antecipação. Neste artigo, vou focar especificamente nesta última.

A expectativa por antecipação surge nos casos de incerteza, quando ainda não esta confirmado aquilo que irá acontecer e costuma estar associada à possibilidade razoável deste acontecimento. Para que se defina uma situação de expectativa é necessário que haja algo que sustente a probabilidade do acontecimento pois, caso contrário, não passaria de uma simples esperança irracional ou baseada na fé. Trata-se, por isso, de uma suposição mais ou menos realista.

 

Para tornar mais clara a diferença nestes casos, poderíamos utilizar estes dois exemplos:

 

1- Esperança milagrosa
Uma senhora casada por 30 anos espera que seu marido demonstre interesse por fatos cotidianos do seu dia a dia. Porém, durante todo o período de seu casamento ele nunca o fez, o que torna irrealista a esperança depositada na mudança “milagrosa” dele. Esta situação a faz sofrer recorrentemente a cada vez que o “esperado” não acontece.

 

2- Expectativa realista
A mesma senhora do exemplo anterior aguarda por uma encomenda a ser entregue pelos Correios. Supondo que ela tenha feito uma compra por intermédio de uma empresa confiável, tenha escolhido corretamente um determinado produto, tenha pago pelo mesmo e concluído todos os requisitos da compra, as chances de sucesso e realização da ação esperada são muito altas, podendo-se dizer então que é uma expectativa realista. A expectativa realista é natural e saudável. Desperta sentimentos bons e ajuda a alavancar o progresso e a busca por novas realizações na vida da pessoal e profissional. Mas o que fazer quando temos que lidar com a esperança irracional (ou milagrosa)? Nos meus anos de experiência em clínica, as principais formas de lidar com essas situações são identificar, analisar, abdicar e tratar a ansiedade. Analisar uma situação de modo realista para entender qual a probabilidade de acontecer é algo relativamente fácil. No entanto, abdicar nem sempre é uma tarefa simples. As pessoas tendem a depositar esperança no resultado e grande parte das vezes abdicar disso pode ser confundido com desistir de um sonho ou de algo muito importante.

 

A problemática se agrava quando este “sonho” não é algo possível ou exige um esforço além do qual a pessoa está disposta a fazer, já que seria algo que muito provavelmente não aconteceria naturalmente e pode gerar grandes frustrações em sua vida. Já quando esse algo é possível de acontecer, porem improvável na presente situação, mas através de esforço e dedicação é possível alcançá-lo, a frustração pode ser convertida em motivação! E esse tipo de motivação já gerou grandes transformações positivas na vida de muitas pessoas! Mas este é um tópico para outro dia.

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